Autor: Virgilio Marques dos Santos, sócio-fundador da FM2S Educação e Consultoria
Burn on. Não, não é o novo lançamento de uma banda de rock ou uma moda gastronômica. É uma síndrome contemporânea que parece ser um derivado do já conhecido burnout, mas com suas particularidades. Então, o que é exatamente o burn on?
É uma condição em que a pessoa vive em um estado contínuo de alerta e estresse, mas sem os colapsos drásticos característicos do burnout. Imagine uma vela que nunca se apaga, sempre com a chama acesa, sem queimar por completo. Essa é a sensação do burn on. Diferente do burnout, em que a pessoa atinge um ponto de exaustão total, o burn on é mais sutil, mas não menos perigoso.
Sua origem está no ambiente moderno de trabalho e na nossa cultura de conectividade incessante. Na era dos smartphones, e-mails e redes sociais, estamos constantemente “ligados”. Esse estado de alerta permanente pode ser exaustivo. A síndrome começou a ser discutida na Europa, especialmente na Alemanha, onde a expressão “burn on” foi cunhada para descrever esse fenômeno.
As redes sociais são um combustível poderoso para o burn on. A constante comparação com a vida “perfeita” dos outros, a pressão para estar sempre disponível e a avalanche de informações podem aumentar o estresse. Estamos sempre conectados, e isso faz com que o trabalho e a vida pessoal se misturem, criando um ambiente propício para o burn on.
Diferenças entre burn on e burnout
Burnout é o estágio final de um processo de estresse crônico no trabalho. Os sintomas são intensos e incluem exaustão extrema, desapego do trabalho e uma sensação de ineficácia. Burn on, por outro lado, é um estado crônico de estresse, mas com alta funcionalidade. A pessoa ainda consegue realizar suas tarefas, mas vive constantemente no limite, sem pausas para descanso mental.
Sintomas e como evitar
Os sintomas do burn on podem ser difíceis de identificar, justamente porque a pessoa ainda está “funcionando”. Alguns sinais incluem:
● Sensação constante de cansaço, mesmo após descansar;
● Irritabilidade e impaciência;
● Dificuldade para relaxar ou desconectar do trabalho;
● Preocupação constante com tarefas e responsabilidades;
● Problemas de sono, como insônia ou sono superficial;
● Sensação de estar sempre “no limite”, mas não colapsar completamente.
Identificar o burn on requer auto-observação e, às vezes, a ajuda de um profissional da área da saúde. Pergunte a si mesmo:
● Estou frequentemente tenso, mesmo em meus dias de folga?
● Estou sempre pensando no trabalho, ainda que fora do expediente?
● Me sinto constantemente estressado, mesmo sem grandes crises?
● Tenho dificuldade para me desconectar de dispositivos eletrônicos e e-mails?
Se a resposta for sim para várias dessas perguntas, é possível que você esteja sofrendo de burn on. Para evitá-lo, é preciso mudanças de hábitos e posturas. Algumas dicas são:
● Estabelecer limites claros, com definições de horários para começar e terminar o trabalho;
● Praticar o desligamento digital, com a criação de momentos no dia em que você se desconecta completamente de dispositivos eletrônicos;
● Priorizar o autocuidado, incluindo atividades relaxantes em sua rotina, como exercícios físicos, meditação ou hobbies;
● Buscar ajuda profissional, como terapia ou coaching, para te ajudar a identificar e a lidar com o estresse crônico;
● Se comunicar abertamente, falando sobre suas necessidades e limites com seus superiores e colegas.
Como as diferentes gerações lidam com ela?
Apesar de demandar cuidados, o burn on pode ter diferentes interpretações, a depender da geração. Os baby boomers, por exemplo, tendem a lidar com o estresse de maneira mais tradicional, muitas vezes ignorando os sinais até que se tornem insuportáveis. O conceito de burn on pode parecer estranho a eles, pois estão acostumados a separar claramente o trabalho do lazer.
Já a geração X valoriza mais o equilíbrio entre vida profissional e pessoal, mas pode ser vítima do burn on devido às responsabilidades familiares e profissionais simultâneas. Tendem a buscar soluções práticas e imediatas.
Os millennials, por sua vez, cresceram na era digital e podem ser mais suscetíveis ao burn on por estarem sempre conectados. No entanto, estão mais abertos a discutir saúde mental e buscar ajuda.
Por fim, a geração Z, que começa sua carreira já no digital, sente a pressão de estar sempre “ligada”. Esses profissionais podem ser mais conscientes sobre saúde mental, mas ainda enfrentam desafios significativos devido à constante conectividade.
Seja qual for a sua geração, o burn on é uma síndrome insidiosa e presente na vida moderna. Diferente do burnout, ele permite que a pessoa continue funcionando, mas sempre à beira do colapso. Reconhecer os sintomas e tomar medidas preventivas é crucial para manter a saúde mental e o bem-estar. As redes sociais e a cultura de hiperconectividade só exacerbam esse problema, afetando todas as gerações de maneiras diferentes. Portanto, estabelecer limites, praticar o autocuidado e buscar ajuda, quando necessário, são passos essenciais para evitar o esgotamento gradual.
*Imagem de Franz Bachinger por Pixabay