Mais de um milhão de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) são passadas de uma pessoa para outra diariamente em todo o mundo, por meio de relações sexuais ou contato sexual, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Essas infecções geralmente não apresentam sintomas e são difíceis de detectar. Mas quando se manifesta com certas doenças, elas apresentam sintomas específicos.
As ISTs geralmente são transmitidas durante a relação sexual, mas às vezes podem ser causadas por outro contato sexual pele a pele.
Algumas ISTs também podem ser transmitidas de mãe para filho durante a gravidez, o parto ou a amamentação.
Outras maneiras pelas quais essas infecções podem ser transmitidas incluem transfusões de sangue ou compartilhamento de agulhas.
As ISTs podem potencialmente levar a resultados graves, incluindo câncer, dor pélvica crônica, gravidez ectópica e infertilidade.
Quais são os tipos de IST?
Existem mais de 30 bactérias, vírus e parasitas diferentes que podem ser transmitidos por contato sexual.
Os indivíduos também podem ter várias ISTs ao mesmo tempo.
As mais comuns são sífilis, gonorreia, clamídia e tricomoníase. Todas essas infecções são curáveis.
Quais são os sintomas?
As infecções sexualmente transmissíveis são geralmente assintomáticas ou podem causar apenas sintomas leves.
É possível ter uma infecção sem saber.
Mas mesmo sem sintomas, essas infecções podem ser transmitidas por meio de relações sexuais e ser prejudiciais.
Se houver sintomas, podem incluir:
- Corrimento incomum do pênis ou vagina
- Feridas ou verrugas na área genital
- Dores frequentes ao urinar
- Comichão e vermelhidão na área genital
- Bolhas ou feridas na boca ou ao redor dela
- Odor vaginal anormal
- Comichão anal, dor ou sangramento
- Dor abdominal
Por que as ISTs são tão comuns?
Em 2020, a OMS estimou que ocorreram 374 milhões de novas infecções de pelo menos um dos quatro tipos mais comuns de IST: tricomoníase (156 milhões), clamídia (129 milhões), gonorreia (82 milhões) e sífilis (sete milhões).
Estima-se que mais de 490 milhões de pessoas viviam com herpes genital em 2016, e estima-se que 300 milhões tenham uma infecção pelo papilomavírus humano (HPV), a principal causa de câncer do colo do útero em mulheres e câncer anal entre homens que fazem sexo com homens, de acordo com estatísticas da OMS.
Sexo é uma necessidade biológica. É como comer e beber, faz parte da natureza do ser humano”, afirma Teodora Elvira C. Wi, líder dos Programas Globais de HIV, Hepatites e ISTs da OMS.
“Você faz sexo e quando faz sexo você pode ter ISTs. É por isso que o número de infecções é tão alto.”
Wi também aponta para o fato de que, uma vez que as ISTs são frequentemente assintomáticas, as pessoas podem transmitir essas infecções sem saber.
O risco de contrair uma IST aumenta devido à mudança de cultura em torno do sexo casual, às pessoas que têm acesso mais fácil ao sexo e têm mais do que um parceiro sexual ao mesmo tempo, e ao uso crescente de aplicativos de encontros, diz a especialista.
Embora estudos recentes indiquem que o número de jovens adultos solteiros que praticam sexo casual diminuiu, há também uma redução no uso de preservativos.
Wi enfatiza que quando não havia tratamento disponível para o HIV, as pessoas eram cautelosas em fazer sexo casual, especialmente sem preservativos.
Ela frisa que muitas pessoas em muitas partes do mundo acreditam erroneamente que podem fazer o teste do HIV, tomar os seus medicamentos e depois ficar curadas. “Então, o uso de preservativos diminuiu”, diz ela.
Em 2022, 1,3 milhão de pessoas foram recentemente infectadas pelo HIV, segundo dados da OMS.
Mais de 600 mil pessoas ainda morrem todos os anos devido ao vírus porque não sabem que têm HIV e não estão em tratamento, ou porque iniciam o tratamento muito tardiamente, afirma a organização.
Como você pode se proteger de uma IST?
“Por favor, usem camisinha. Isso é o que vai protegê-los de uma IST”, diz Wi.
“Se você vai fazer sexo com alguém que não conhece ou se for sexo casual, você precisa ser responsável. É melhor você aprender como usar camisinha e como ter prazer com ela.”
O uso correto de preservativos de látex reduz bastante, mas não elimina completamente, o risco de contrair ou transmitir ISTs, segundo os profissionais de saúde.
Se o indivíduo for alérgico ao látex, o conselho é usar preservativos de poliuretano.
Além disso, especialmente se forem detectados sintomas de IST, é crucial ir imediatamente a um médico para ser testado e tratado.
“Não vá à farmácia onde vai fazer o autotratamento porque isso não vai te ajudar. Se você não for tratado adequadamente, isso poderá ter consequências graves, como infertilidade”, diz Wi.
“Negligenciar as ISTs prejudica a saúde: podem causar doença inflamatória pélvica, resultados adversos na gravidez. Cerca de um a dois milhões de novos casos de infertilidade resultam anualmente de novas infecções por gonorreia ou clamídia em mulheres que não são tratadas”, diz ela.
A sífilis na gravidez leva a mais de 355 mil resultados adversos no nascimento todos os anos, incluindo cerca de 61.000 mortes neonatais, e o HPV causa aproximadamente 342 mil mortes por câncer de colo do útero anualmente, acrescenta a especialista.
Quais são os tratamentos para ISTs?
As infecções sexualmente transmissíveis causadas por bactérias ou parasitas podem ser tratadas com antibióticos, mas não há cura para as IST causadas por vírus, como herpes ou HPV.
No entanto, os medicamentos podem ajudar com os sintomas e diminuir o risco de propagação da infecção.
Existem também vacinas para prevenir HPV e hepatite B.
Wi diz que a OMS estuda o desenvolvimento de uma vacina contra a gonorreia e também tem sido desenvolvida uma vacina terapêutica para o herpes genital, com um mecanismo semelhante às vacinas de mRNA utilizadas na Covid 19, acrescenta ela.
A especialista também afirma que estão sendo feitos trabalhos iniciais para desenvolver uma vacina contra a clamídia, assim como uma investigação inicial para possíveis mecanismos para desenvolver uma vacina contra a sífilis.
O que os governos podem fazer para prevenir as ISTs?
Na maior parte do mundo, o financiamento para programas governamentais de prevenção e controle das ISTs é limitado.
“Por causa da estigmatização das ISTs, isso não é priorizado”, diz Wi.
Ela enfatiza que os governos devem proporcionar um acesso mais fácil e mais acessível aos serviços de saúde e fornecer maior financiamento para o desenvolvimento de ferramentas para o diagnóstico e o tratamento de ISTs comuns – como testes rápidos no local de atendimento e vacinas.
“As ISTs são totalmente negligenciadas como doenças infecciosas. Precisamos reduzir o estigma em torno delas e tratá-las como qualquer outra infecção”, diz ela.
O cenário brasileiro contra as ISTs
Enquanto muitos países negligenciam essas infecções, como aponta a especialista, o Brasil possui programas de prevenção e tratamento de IST por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), que permitem fazer exames e tratamentos por meio do sistema público.
Há, por exemplo, distribuição gratuita de medicamentos, como para o tratamento de HIV ou para prevenção contra o vírus, a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), e vacinação contra o HPV.
De acordo o Ministério da Saúde, o SUS oferece gratuitamente testes para diagnóstico do HIV, e também para diagnóstico da sífilis e das hepatites B e C. Existem, no Brasil, dois tipos de testes: os exames laboratoriais e os testes rápidos.
Os testes rápidos são práticos e de fácil execução; podem ser realizados com a coleta de uma gota de sangue na ponta do dedo ou ainda pode ser amostra de fluido oral, e fornecem o resultado em, no máximo, 30 minutos. Para os exames laboratoriais o serviço realiza a coleta de sangue venoso (da veia) e encaminha para o laboratório processar.
Esses exames podem ser feitos em uma unidade básica de saúde da rede pública ou nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA).
Além da coleta e da execução dos testes, há um processo de aconselhamento, para facilitar a correta interpretação do resultado pelo usuário. Também é possível consultar onde fazer o teste pelo Disque Saúde (136).
Fonte: BBC NEWS