O ritual de tomar água morna com limão em jejum assim que se acorda é conhecido no mundo inteiro, principalmente por conta de artistas e celebridades, que afirmam beber a mistura todos os dias. Acredita-se que a bebida ajuda na digestão, na desintoxicação e na limpeza do fígado. No entanto, especialistas discordam completamente da promoção desse hábito.
Quem é adepto dessa prática considerada saudável por muitos não faz ideia dos malefícios por trás da ingestão de água com uma fruta ácida logo pela manhã. Além de causar, a longo prazo, a perda do esmalte do dente, pode piorar a sensação de refluxo, não “limpa” o fígado e não apresenta resultados em seu “papel” de auxiliar do sistema digestivo.
Não há comprovação dos benefícios
O professor David Lloyd, cirurgião de fígado e consultor do hospital Leicester Royal Infirmary, na Inglaterra, não acredita que exista nenhuma prova científica ou evidência médica que sustente as afirmações feitas sobre os benefícios da água morna com limão.
“Para ‘desintoxicar’ o fígado, ou melhor, curar danos ao fígado, você tem que parar de fazer as coisas que o fazem trabalhar tanto e causar problemas em primeiro lugar, como beber álcool ou usar drogas. Isso, junto com a ingestão de cerca de dois litros de água por dia, manterá o fígado saudável. Um copo de água quente e limão não consegue isso. Além do mais, a função do fígado é desintoxicar, não existe isso de ‘desintoxicar’ o próprio fígado”, aponta o especialista.
Outro ponto defendido por quem cultiva o hábito é de que ele também funciona como um auxílio digestivo por estimular os sucos gástricos e o peristaltismo (contrações musculares em forma de onda). Steven Mann, gastroenterologista consultor do Royal Free London NHS Foundation Trust, explica que isso não é verdade.
“Não há evidências de secreções gástricas extras ou aumento do peristaltismo. Os limões não têm benefícios particulares em relação a outros alimentos à base de plantas. A única coisa boa da mistura entre a água e o limão é repor os líquidos, necessários para manter o corpo hidratado – mas isso se deve à água, não ao limão. Além disso, as pessoas suscetíveis ao refluxo – onde o ácido e outros conteúdos do estômago são trazidos de volta para a garganta – descobrirão que a água com limão agrava o problema porque é ácida”, esclarece o especialista.
Prejudica o esmalte dos dentes
Além disso, dentistas alertam para os malefícios do contato da bebida, de teor ácido pela presença do limão, com o esmalte dos dentes logo de manhã. Com o tempo, ela pode dissolver a dura camada que protege os dentes de infecções e outros problemas dentários.
“O esmalte desgastado pode abrir a porta para bactérias que podem causar cáries ou infecções. Também torna os dentes descoloridos à medida que o esmalte, que é branco, é desgastado para expor a camada de dentina por baixo, que é amarela”, alerta Hannah Woolnough, porta-voz da British Dental Association.
Esses danos, que em muitos casos é permanente, também podem causar dor e sensibilidade extrema nos dentes. Isso ocorre porque o limão ácido fornece um ambiente melhor para as bactérias nocivas viverem e essas bactérias produzem mais ácido para causar a perda do cálcio presente.
“A água quente pode exacerbar esse efeito, fazendo com que o esmalte se expanda e contraia rapidamente, aumentando ainda mais o risco de erosão do esmalte levando à sensibilidade, cárie e até perda do dente”, explica o dentista Alan Clarke, da Paste Dental, em Belfast, na Irlanda do Norte.
“O ácido junto com o calor da água quente e do limão que produz a tempestade perfeita para estimular a erosão e levar à deterioração”, completa Nilesh Parmar, dentista do condado de Essex, na Inglaterra.
Fonte: O Globo