Ao longo dos últimos 20 anos, muitas transformações ocorreram na saúde pública e privada. O médico de hoje é um especialista. A concorrência aumentou em virtude do aumento das escolas médicas. Aqui na Bahia, o mercado de saúde privado passou por mudanças com a chegada de grandes grupos econômicos. Otavio Marambaia, conselheiro e presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb), opina sobre o assunto.
1. Como você descreve o cenário da medicina hoje?
Dois aspectos são importantes: o progresso da medicina nos últimos anos, com o incremento dos procedimentos de alta tecnologia, e a formação médica no Brasil, que está complicada devido à abertura indiscriminada de escolas médicas. Sem um corpo docente suficiente para preparar esses médicos, forma-se profissionais de qualidade duvidosa e isso é um risco à população.
2. O médico que faz o atendimento a assistência básica à saúde devia ser um clínico generalista?
O médico que faz a atenção básica é um especialista nesse setor. É o médico de saúde da família e comunidade. Esse profissional, após concluir uma residência, torna-se qualificado para resolver grande parte das doenças que acometem a população e que são doenças de pequena e média complexidade. São eles os responsáveis por prevenir doenças que podem causar grandes danos à saúde e ter alto custo para o sistema de saúde pública do Brasil.
3. Como a chegada de grandes grupos econômicos impactou a saúde privada aqui na Bahia?
Certamente que isso tem impactado no mercado de trabalho e uma coisa que nos preocupa, como entidade médica, é a cartelização, ou até a proibição, de que médicos possam indistintamente atuar nos diversos hospitais desses grupos que, hoje, controlam a maioria dos hospitais privados na Bahia. Esperamos que isso não sirva de pressão, reduzindo o mercado de trabalho.
4. Com a concorrência em alta, o médico tornou-se um profissional com uma mentalidade mais voltada para o negócio?
Não sei se isso é um fato. É real que o médico está recebendo menos devido a oferta de profissionais no mercado de trabalho. Consequentemente, ele tem trabalhado mais, levando muitos dos colegas a uma carga horária despropositada e exaustiva. Não é à toa que, hoje, os médicos ostentam índices de doenças psíquicas, de consumo de drogas lícitas e de suicídios muito maior do que a população em geral.
Crédito da foto : Ascom Cremeb