Segundo o Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF), o Brasil é o quinto país em incidência de diabetes no mundo. Estima-se que 16,8 milhões dos indivíduos de 20 a 79 anos convivam com a doença, sendo que 90% dos casos respondem pelo diabetes do tipo 2, caracterizado pela resistência à ação do hormônio insulina ou dificuldades em sua produção.
Nesse cenário, é particularmente animador um estudo divulgado no dia 26 de junho durante o Congresso da Associação Americana de Diabetes (ADA) e publicado na revista científica Jama. Segundo o trabalho, chamado ONWARDS 3, uma nova injeção de insulina, dessa vez de aplicação semanal, seria mais vantajosa do que a insulina de dose diária – utilizada atualmente por aqueles pacientes que não conseguem controlar a glicemia só com remédios.
A pesquisa contou com a participação de 588 pacientes de 11 países diferentes, incluindo o Brasil. Por aqui, as análises foram coordenadas pelo endocrinologista André Vianna, diretor do Centro de Diabetes Curitiba (PR), o único co-autor brasileiro no estudo. Enquanto uma parte dos voluntários usou a insulina diária (Degludec), a outra parcela ficou com a insulina semanal (Icodec). O tratamento durou 26 semanas.
Os cientistas verificaram, ao final de aproximadamente seis meses, uma redução de hemoglobina glicada de 8,6% para 7% entre pacientes que usaram Icodec. No grupo da insulina diária, esse índice foi de 8,5% para 7,2%. De acordo com Vianna, o exame de hemoglobina glicada é considerado o padrão ouro em pesquisas e também na avaliação dos pacientes no dia a dia porque mostra uma média do valor da glicemia ao longo de três meses – ou seja, não leva em conta oscilações diárias consideradas normais.
Obesidade é um dos principais fatores por trás do desenvolvimento do diabetes do tipo 2. Foto: jarmoluk/Pixabay
Embora a diferença entre os tratamentos tenha sido pequena, de 0,2%, Vianna ressalta que ela foi considerada estatisticamente significativa. “A insulina semanal se mostrou superior do que a de aplicação diária”, resume o médico.
Ainda de acordo com ele, entre as insulinas de ação lenta, a Degludec sempre foi considerada a melhor de todas, porque tem baixo potencial de causar hipoglicemia – situação em que a glicose baixa demais, provocando tremores, tontura e desmaio. “Quando o paciente usa insulina, ela precisa ser segura para não gerar esse tipo de problema”, comenta o endocrinologista.
“E a insulina semanal se mostrou tão segura quanto a Degludec”, relata. Para ter ideia, ambas as opções foram associadas a menos de um episódio de hipoglicemia por paciente a cada ano.
Mais conforto, maior adesão
Segundo Vianna, quando o paciente com diabetes do tipo 2 descobre que precisa recorrer à insulina, existe um grande receio. “Muitos se recusam, não conseguem fazer a aplicação, ainda mais porque é diária”, conta. Há estudos indicando que, depois de um ano da indicação de insulina, aproximadamente metade dos pacientes não está mais investindo nas injeções.
Só que isso é um problema seríssimo, aponta o endocrinologista. Caso as taxas de açúcar no sangue não sejam controladas, o paciente fica suscetível a diversas complicações, como retinopatia diabética, nefropatia diabética, pé diabético, infarto, derrame e por aí vai. Daí a importância de encontrar maneiras de garantir a plena adesão ao tratamento.
Nesse cenário, a possibilidade de contar com uma insulina de aplicação semanal empolga quem lida com o diabetes. “Se falarmos pro paciente que a aplicação é semanal, vai facilitar muito o tratamento”, avalia o endocrinologista. A pesquisa identificou que o uso de insulina semanal pode reduzir em 85,7% o número de picadas, passando de 365 aplicações ao ano para apenas 52. “A gente vê isso como uma revolução”, nota Vianna.
Chegada ao mercado brasileiro não deve demorar
A Novo Nordisk, farmacêutica que produz a Icodec, informou que submeteu a aprovação da insulina semanal em abril deste ano. Agora, o prazo para a avaliação da agência é de 16 a 24 meses. De acordo com informações passadas pela empresa, só depois da aprovação é que haverá discussão sobre o preço e uma previsão de lançamento do produto.
A empresa informa que a nova insulina também está em análise pelo FDA, EMA e NMPA – são as agências reguladoras americana, europeia e chinesa, respectivamente.
Fonte: Estadão