A preciosa relação entre nutrição e saúde mental

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Dizer que a boa alimentação está entre os pilares principais da nossa saúde e que investir nela é investir em nossa qualidade de vida é como chover no molhado. Mas, mesmo que este seja um conselho tão batido e valioso, e apesar de tantas vezes repetido, há nuances nele que ainda teimamos em ignorar. Quando falamos em uma rotina alimentar saudável, afinal, o que geralmente vem à mente são os seus benefícios físicos. E tamanha é a fixação com a relação entre o que comemos e o nosso corpo que, muitas vezes, essa conversa descamba para o campo estético, e o que era para ser uma iniciativa com foco em saúde se torna uma perigosa obsessão por cumprir padrões de beleza.

Um problema adicional a toda essa confusão é que, por causa dela, acabamos deixando de olhar para outros benefícios – para além dos físicos, naturalmente mais aparentes – associados à manutenção de uma dieta balanceada. Ocorre que a ciência já vem demonstrando, há algum tempo, que existe uma relação direta entre a nutrição, transtornos mentais e a obesidade. É o que explica o psiquiatra Rodrigo Cunha Braga, lembrando que os nutrientes que ingerimos impactam o funcionamento do nosso corpo e do nosso cérebro, influenciando nossas emoções e humor e até mesmo sendo uma ferramenta tanto para a prevenção quanto para o tratamento de transtornos mentais.  

Como exemplo dessa relação objetiva entre saúde mental e nutrição, Braga lembra que estudos meta-analíticos já mostraram que homens e mulheres com obesidade têm 55% maior risco de desenvolver depressão, enquanto indivíduos com depressão têm 58% maior risco de desenvolver obesidade. Para ele, esses achados são um indício de como os nutrientes que consumimos podem afetar o funcionamento do corpo e do cérebro, influenciando nossas emoções e humor. 

O psiquiatra ainda lembra que o equilíbrio nutricional desempenha um papel fundamental na prevenção e tratamento de distúrbios de humor e transtornos emocionais, como ansiedade e depressão, destacando que padrões dietéticos ocidentais, ricos em gorduras saturadas e alimentos ultraprocessados, estão associados a prejuízos no funcionamento neuronal e a uma maior vulnerabilidade aos transtornos mentais. Por outro lado, segundo ele, diversas pesquisas já evidenciaram que alterações alimentares positivas – como a dieta mediterrânea, rica em frutas, vegetais, grãos integrais, nozes e azeite – podem ser benéficas para a saúde mental e a prevenção desses transtornos. 

E se, evidentemente, é recomendável que as pessoas busquem orientação de profissionais de saúde, como nutricionistas, para obter orientações personalizadas sobre sua alimentação e necessidades nutricionais específicas, Braga destaca que combinar uma dieta saudável com atividade física regular e outras abordagens de cuidados com a saúde mental, como terapia e apoio social, é essencial para promover o bem-estar geral. 

A relação entre o intestino e humor 

Um aspecto interessante discutido pelo psiquiatra Rodrigo Cunha Braga em entrevista a O TEMPO é o uso de probióticos para auxiliar na saúde mental. Conforme o profissional da saúde, estudos robustos demonstram que probióticos com cepas específicas de bactérias podem contribuir para o controle de sintomas psíquicos, como ansiedade, insônia e agitação. Evidências que, mais uma vez, reforçam a importância da saúde intestinal na regulação do humor e das emoções. 

Argumento semelhante é usado pelo médico clínico geral Aurélio Relíquias ao falar sobre a relação entre nutrição e saúde mental. Pós-graduado em nutrologia, ele observa que certos nutrientes podem se revelar prejudiciais para o funcionamento do nosso corpo, afetando, por exemplo, a regulação do intestino. Ele detalha que o órgão produz cerca de 95% da serotonina presente no corpo humano. Estamos falando aqui de um neurotransmissor importante para a regulagem do ritmo cardíaco, do sono, do apetite, do humor, da memória e da temperatura do corpo. Não por acaso, a substância geralmente está presente na composição de antidepressivos. “Ou seja, se o intestino está inflamado, a produção de serotonina é comprometida e, com o passar do tempo, isso pode levar a problemas graves de humor”, explica Relíquias. 

Nutrição e depressão. Para Aurélio Relíquias, problemas nutricionais podem estar associados e contribuir para o desenvolvimento de quadros depressivos – uma condição que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, caracterizada por uma variedade de sintomas, incluindo tristeza persistente, desinteresse ou falta de prazer nas atividades, fadiga, alterações no apetite e no sono, entre outros.  

O especialista defende que essa relação parece evidente, uma vez que o cérebro, responsável pelo controle das funções mentais e emocionais, requer nutrientes adequados para funcionar corretamente, de forma que a nutrição inadequada pode levar à deficiência de vitaminas, minerais e ácidos graxos essenciais, cruciais para o adequado funcionamento cerebral. Logo, a falta desses nutrientes pode levar a desequilíbrios químicos no cérebro, afetando negativamente o humor, a cognição e o bem-estar emocional. “No meu consultório, esse tema é amplamente abordado”, garante o médico. 

Dica. “Uma boa nutrição, incluindo elementos básicos como vitamina D, vitamina B12, vitamina C, 5-HTP, triptofano e vários alimentos, pode melhorar o estado de humor ao aumentar a produção de neurotransmissores como dopamina, serotonina e acetilcolina – todos eles neurotransmissores que desempenham um papel crucial na regulação cerebral e nas emoções”, defende Aurélio Relíquias. 

Veja abaixo uma relação de nutrientes-chave que beneficiam a saúde mental: 

  • Ácidos graxos ômega-3. Presentes em peixes, como salmão e sardinha, e em sementes de linhaça e chia, os ômega-3 têm propriedades anti-inflamatórias e neuroprotetoras, que podem ajudar a reduzir a inflamação cerebral associada à depressão.
  • Vitaminas do complexo B. As vitaminas B, como B12, B6 e ácido fólico, são essenciais para a produção de neurotransmissores, substâncias químicas que desempenham um papel importante na regulação do humor. Fontes alimentares dessas vitaminas incluem carne, ovos, grãos integrais e vegetais folhosos verdes.
  • Triptofano. O triptofano é um aminoácido precursor da serotonina, um neurotransmissor que desempenha um papel fundamental no controle do humor e do sono. Alimentos como carne, frango, peixe, laticínios, nozes e sementes são boas fontes de triptofano

 

 

Fonte: O Tempo

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