“O SUS pode ser eficiente”: os 10 anos do Instituto do Cérebro do Rio

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Referência internacional em neurocirurgia e procedimentos de alta complexidade, o Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer (IECPN), no Rio de Janeiro, comemora uma década em grande estilo. Com um amplo e novo prédio, inaugurado em maio deste ano, agora traz instalações que elevam ainda mais o já alto padrão de qualidade e atendimento especializado da instituição idealizada e comandada pelo neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho, grande responsável pelo sucesso do hospital, que além, de cultivar pesquisa e ensino, atende exclusivamente pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).

“É o primeiro Instituto do Cérebro no Brasil que recebe e trata pacientes neurológicos. Existem vários centros do tipo no país, mas são todos focados em pesquisa. O nosso é o único modelo que recebe casos de alta complexidade e concentra tecnologia de última geração para tratamentos e cirurgias voltados a quadros de epilepsia, Parkinson e aneurismas, por exemplo”, diz Niemeyer.

A neuro-oncologia também é tratada como prioridade pelo instituto. Segundo o médico, a maior parte do movimento do hospital gira em torno de pacientes com tumores cerebrais. “Tratamos diversos tipos da doença, em adultos e crianças. E, agora, estamos instalando um novo setor de radioterapia, que vai completar essa área”, conta o neurocirurgião.

O destaque nesse pedaço é o recém-adquirido acelerador linear de alta tecnologia para realização de sessões de radioterapia, que vai auxiliar no tratamento de tumores cerebrais e metástases (quando a enfermidade se espalha para outros locais do corpo). A previsão é que, com a chegada do aparelho, 50 novos pacientes sejam atendidos mensalmente na unidade.

Entre os equipamentos de última geração, o instituto conta ainda com um eletroencefalógrafo 24 horas para mapeamento cerebral de pacientes com diagnóstico de epilepsia, e outro que realiza radiocirurgias no cérebro com extrema precisão e sem necessidade de incisões – um dos quatro existentes no Brasil, sendo o instituto carioca o único hospital público do país a possuir um.

“O novo Instituto Estadual do Cérebro vai salvar milhares de vidas. Vamos ter um atendimento diferenciado, com a reabilitação, e com acesso aos melhores equipamentos de neurocirurgia do mundo. Temos também aqui uma das melhores equipes de pesquisa, atendimento e inovação do mundo”, diz o secretário estadual de Saúde do Rio, Dr. Luizinho.

Muito à frente

Criado em 1 de agosto de 2013, quando também realizou sua primeira cirurgia, o Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer realizou mais de 11 mil atendimentos, 9 mil cirurgias e 95 mil exames desde então. O nome do centro homenageia Paulo Niemeyer (1914-2004), o pai do atual comandante, e referência na história da neurocirurgia do país e irmã do arquiteto Oscar Niemeyer.

Com as novas instalações, que tiveram um investimento de R$ 6,7 milhões, espera-se dobrar o número. “Estávamos fazendo cerca de 1200 cirurgias por ano, só de cérebro, sem acidentados ou portadores de problemas na coluna. Com a ampliação, estamos a caminho de fazer mais de 2000 por ano”, conta Niemeyer Filho. “São cirurgias eletivas, programadas, de casos complexos. Com esse aumento, vamos também ampliar os diagnósticos e o escopo do instituto, mas sempre voltados para doenças mais complexas, que necessitam de centros de referência.”

Entre as cirurgias complexas no currículo do hospital, destaque para a separação dos gêmeos Arthur e Bernardo, que nasceram em 2018 unidos pelo crânio (craniópagos), caso raro de ligação, e foram finalmente separados há um mês, após nove cirurgias realizadas pela equipe multidisciplinar do instituto.

Episódio que, além de salvar a vida dos meninos, rendeu ao IECPN o convite para se tornar parceiro da Fundação Gemini Untwined, entidade internacional que apoia e estuda casos de gêmeos craniópagos. “Já estamos com outro par de gêmeos, do interior de São Paulo, que estão sendo preparados. Nasceram há uma semana atrás e estamos esperando estabilizar para planejar a separação”, revela o neurocirurgião.

Na área de pediatria, o médico ressalta outra intervenção, que anda salvando muitas crianças antes mesmo de nascer. Trata-se da cirurgia intrauterina, em que o feto com malformação na coluna é operado dentro do útero da mãe no quinto mês de gravidez, evitando que a criança nasça paraplégica. “Já fizemos cerca de 40 cirurgias desse tipo e conseguimos corrigir mais dos casos. São crianças que nasceriam paraplégicas e, depois da operação, nasceram com movimentos normais. Os resultados são espetaculares.”

A unidade conta com quatro salas de centro cirúrgico e mais de 800 profissionais, sendo mais de 170 médicos. Com o novo edifício de seis andares, interligado ao antigo prédio, terá uma nova UTI pediátrica, enfermaria, sala de reabilitação, brinquedoteca, novo refeitório, cozinha, além de equipamentos de ponta no atendimento de neurocirurgia.

Após as mudanças, foram abertos 49 novos leitos de enfermaria (39 leitos adultos e 10 pediátricos) e mais dez de CTI infantil (3 neonatais e 7 pediátricos). Eles se somam aos 44 leitos de UTI adulto já existentes. “É uma luta diária para manter o padrão que mantemos, mas o que mais nos entusiasma é mostrar que o SUS pode ser eficiente. Ser ágil e ter uma gestão eficiente faz toda a diferença”, comenta o neurocirurgião, que também é escritor e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL).

Pesquisa e ensino de primeiro mundo

O IECPN também é uma importante instituição de ensino e pesquisa, com mais de 200 artigos científicos publicados e parcerias internacionais com países com centros de Portugal, França e Reino Unido, além da prestigiada Certificação Internacional da World Federation of Neurosurgical Societies (Federação Mundial de Sociedades de Neurocirurgia).

“Entre as várias linhas de pesquisas, temos duas muito interessantes: uma de biópsia líquida, em que se tenta fazer os diagnósticos dos tumores cerebrais por exame de sangue e outra em que o vírus da zika poderia ser usado para tratar esses tumores. Após estudarmos as crianças que nasceram com microcefalia, vimos a possibilidade de empregar o vírus, que tem uma afinidade pela célula-tronco cerebral, para atacar a doença”, explica Niemeyer.

O Instituto também tem uma intensa esfera educacional, com parcerias com universidades, em que residentes, pós-graduandos e alunos de mestrado e doutorado vêm de todo o país para estudar, aprender e trabalhar. “É um hospital de pesquisa, de ensino e de assistência. Os profissionais vêm pra cá e  ficam cinco anos treinando. Recebemos esses jovens do Brasil todo. Eles saem daqui neurocirurgiões”, diz o diretor.

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