Uma preocupante realidade tem sido observada na saúde de crianças e adolescentes do Brasil. Segundo uma revisão de estudos realizada por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 2023, mais de um quarto (27,4%) deles apresentam níveis elevados de colesterol, conforme parâmetros estabelecidos pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
Apesar da má reputação, o colesterol é uma gordura essencial para o bom funcionamento do organismo humano. Ele está presente em várias estruturas corporais, além de desempenhar um papel primordial na formação de hormônios, vitamina D e ácidos biliares.
No geral, existem três tipos de colesterol: HDL, conhecido como “colesterol bom”, que atua na limpeza das artérias; VLDL, que transporta triglicerídeos – outro tipo de gordura – na corrente sanguínea, quando em altas quantidades; e LDL, o temido “colesterol ruim”, que se acumula nas paredes das artérias formando placas de gordura, podendo causar diversas doenças.
A mesma pesquisa da UFMG destaca que cerca de 1 em cada 5 jovens brasileiros possui alteração justamente na LDL. “O colesterol alto entre crianças e adolescentes é uma condição que pode ser influenciada por diversos fatores. Entre as principais causas, destacam-se uma dieta rica em gordura saturada e trans, histórico familiar e sedentarismo”, afirma Conceição Sena, nutricionista do CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”.
Normalmente, 70% do colesterol do corpo é produzido pelo próprio organismo e os outros 30% são obtidos a partir da alimentação, o que faz com que a alta ingestão de alimentos gordurosos elevem os níveis de colesterol além do normal.
“A ingestão excessiva de fast food e uma variedade de alimentos ultraprocessados diariamente podem prejudicar. Esses alimentos, caracterizados por seu baixo valor nutricional e altos níveis de gordura, são exemplos comuns do dia a dia que contribuem para o aumento dos níveis de colesterol”, esclarece a profissional.
Os sintomas de colesterol não são visíveis, por isso é importante que os pais agendem exames regulares para seus filhos. “No dia a dia, é preciso também observar a rotina alimentar e incentivar de forma positiva a manter um peso saudável”, afirma a nutricionista.
A especialista esclarece ainda que, nessas duas fases da vida, os pais desempenham um papel crucial na hora de proporcionar uma alimentação adequada e balanceada aos filhos. “É fundamental limitar o consumo de alimentos processados e incentivar a ingestão de produtos in natura, como vegetais, verduras, frutas, grãos integrais, fibras e proteínas com baixo teor de gordura.”
Vale lembrar que o excesso de colesterol pode levar crianças e adolescentes a complicações de saúde futuras, incluindo o aumento do risco de desenvolver condições como hipertensão, dislipidemia, diabetes tipo 2 e diferentes doenças cardiovasculares. Os perigos são particularmente elevados quando associados à obesidade.
O Atlas Mundial da Obesidade, documento recentemente publicado pela Federação Mundial de Obesidade, estima que, até 2035, o Brasil poderá ter até 50% das suas crianças e adolescentes na faixa etária entre 5 e 19 anos apresentando quadros de obesidade ou sobrepeso, o que pode aumentar ainda mais os riscos de saúde entre esses grupos.
“A obesidade pode desencadear várias inflamações e provocar mudanças na estrutura do coração. Essa condição, além de impulsionar o aumento do colesterol, também eleva a probabilidade de surgimento precoce de problemas cardíacos, aumentando o risco de um infarto no futuro”, acrescenta o Dr. Antônio Babo, cardiologista do CEJAM.
Pensando nisso, o médico também recomenda a adoção de uma alimentação balanceada desde a infância como ponto chave para estabelecer bons hábitos alimentares. “Da mesma forma, a prática regular de atividades físicas deve ser incentivada. Ambas as medidas têm contribuições significativas para o controle do peso, redução da pressão arterial, colesterol e melhoria da saúde mental.”