Apesar de o câncer de pulmão não ser o mais incidente, as estimativas são de 32.560 novos casos por ano no triênio 2023-2025¹, sendo o terceiro mais comum em homens e o quarto em mulheres². Entretanto, sem considerarmos o câncer de pele não melanoma, o câncer de pulmão é a principal causa de morte por câncer no Brasil e no mundo³.
Provocado pelo tabagismo em 85% dos casos e pelo tabagismo passivo em quase metade dos casos em não fumantes², a falta de investimento no diagnóstico precoce do câncer de pulmão é muito perigosa.
No início, o câncer de pulmão é assintomático, o que faz com que quase 80% dos casos sejam diagnosticados quando a enfermidade já está avançada, com metástase e sem possibilidade de cura².
Quando os sinais da enfermidade aparecem, eles englobam:
● tosse seca com sangue
● falta de ar
● dor torácica
● em alguns casos perda de peso intensa em pouco tempo
● falta de apetite
● Fadiga
Atualmente, apenas 16% dos casos são descobertos em estágio inicial. Sendo que pacientes com estágio III, historicamente, apresentam uma sobrevida que varia de 36% a 13% em 5 anos².
REALIDADE DISCREPANTE ENTRE SISTEMA PÚBLICO x PRIVADO
Assim como em muitas enfermidades, o diagnóstico precoce pode ser a chave para a cura do câncer de pulmão. No entanto, é sabido que o acesso a esse recurso é diferenciado entre pacientes do sistema de saúde público e privado. Segundo o oncologista Luiz Henrique Araujo, do Rio de Janeiro, que é pesquisador do INCA e membro da Associação Internacional para o Estudo do Câncer de Pulmão, no que se trata do diagnóstico e tratamento, é essencial que haja uma equiparação entre os sistemas.
“A diferença entre os dois pode ser percebida em relação a exames, como a tomografia computadorizada do tórax que é usada para realizar o diagnóstico da doença, que pode ser seguida por uma biópsia, se um nódulo maior do que 3 centímetros for detectado, e favorece a identificação precoce da doença”, conta.
Outra forma de obter o diagnóstico precoce que pode fazer a diferença no desenrolar do quadro dos pacientes do SUS é a tomografia de tórax de rastreamento, chamada de baixa dose, que está à disposição dos pacientes da saúde privada. “Ela é indicada para a população com alta taxa de tabagismo acima dos 55 anos mesmo sem sintomas e reduz bastante a mortalidade, segundo estudos clínicos”, diz Araújo.
IMPACTOS NO TRATAMENTO
Os números não deixam dúvidas da diferença entre as jornadas dos indivíduos com a doença nos sistemas público e privado de saúde. No SUS, 9,4% dos pacientes descobrem o câncer de pulmão em estágio III, fase limite para que haja intenção curativa, contra 11,4% para pacientes do setor privado de saúde⁴. Para se ter uma ideia, pacientes da rede privada podem ter uma sobrevida até duas vezes maior que os da rede pública.
O QUE ESTÁ SENDO DISCUTIDO NA CONSULTA PÚBLICA?
A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde, a CONITEC, abriu uma consulta pública para avaliar a possibilidade de integrar ao SUS um medicamento com intenção curativa para o tratamento do câncer de pulmão de não pequenas células (CPNPC) em estágio III irressecável, ou seja, que não pode ser removido cirurgicamente*.
O tratamento em questão é recomendado por diretrizes nacionais e internacionais, como o da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC)⁷, da National Comprehensive Cancer Network (NCCN)⁸ e da European Society for Medical Oncology (ESMO)⁹.
A incorporação do medicamento permitiria que pacientes da rede pública também pudessem ter essa opção de tratamento. “A diferença do atendimento oferecido aos pacientes em ambos os serviços é realmente desigual no que diz respeito ao tratamento e o gap vai ficando maior conforme eles vão ficando mais modernos, com imunoterapia e cirurgias minimamente invasivas feitas por vídeo ou robótica, por exemplo”, concorda Araujo.
A consulta pública que avalia a incorporação no SUS de um medicamento com intenção curativa para tratamento de câncer de pulmão de não pequenas células (CPNPC) em estágio III irressecável já está disponível.
Fonte: Veja Saúde