Por que tantos adultos estão tomando remédio para tratar TDAH?

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Sendo eu uma mulher na casa dos 30 anos que frequentemente digitava “TDAH” no meu computador, algo intrigante ocorreu em 2021. Fui surpreendida por uma série de anúncios online, todos relacionados ao TDAH, ou seja, ao transtorno de déficit de atenção com hiperatividade.

Entre eles, uma avaliação gratuita de um minuto para determinar a possibilidade de eu possuir o distúrbio, uma oferta de um jogo digital destinado a “reativar” o meu cérebro e até mesmo um anúncio indagando se eu estava experimentando dificuldades no trabalho apesar dos meus esforços.

A razão pela qual o termo “TDAH” se tornou uma presença constante na minha vida digital decorre do fato de eu ser uma psicóloga clínica que se dedica exclusivamente a tratar pacientes com TDAH.

Além disso, desfruto da posição de pesquisadora psiquiátrica na Escola de Medicina da Universidade de Washington, onde investigo as tendências do TDAH ao longo da vida.

Esses anúncios representavam uma nova e impressionante tendência. No ano seguinte, em outubro de 2022, a Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (U.S. Food and Drug Administration) anunciou uma escassez nacional de sais mistos de anfetaminas, os quais são comercializados sob a marca Adderall.

Tanto o Adderall quanto suas variantes genéricas emergiram como tratamentos medicamentosos extremamente comuns para o TDAH. Consequentemente, nos meses seguintes, outros medicamentos destinados ao tratamento do TDAH passaram a integrar a lista de medicamentos com receita em falta.

Ainda em agosto de 2023, os Estados Unidos continuavam lidando com a carência de diversos medicamentos para o TDAH, com a perspectiva de solução só daqui a alguns meses, no mínimo. Evidentemente, essa escassez foi instigada por uma combinação de demanda substancial e dificuldades no acesso a ingredientes-chave. Nos últimos meses, uma grande quantidade de norte-americanos se deparou com a ausência de garantias quanto ao acesso aos seus tratamentos diários.

Relatando um aumento sem precedentes nas prescrições de estimulantes entre 2020 e 2021, o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) trouxe à tona, em março de 2023, achados surpreendentes. O grupo demográfico que demonstrou o maior incremento no uso desses estimulantes – quase 20% em apenas um ano – compreendeu mulheres com idades entre 20 e 30 anos.

As descobertas do CDC, aliadas à persistente carência de estimulantes, suscitam questionamentos interessantes, para os quais ainda não se encontram respostas definitivas, acerca dos fatores subjacentes a essas tendências.

O desafio de diagnosticar o TDAH adulto

Apesar do aumento da consciência em relação ao TDAH nas últimas duas décadas, a realidade é que muitas pessoas, especialmente mulheres e indivíduos de grupos étnicos minoritários, não recebem diagnóstico de TDAH durante a infância.

Ao contrário da depressão ou ansiedade, diagnosticar o TDAH em adultos é uma tarefa complexa. O processo de diagnóstico, seja em crianças ou adultos, requer, em primeiro lugar, a identificação de traços que se assemelham ao TDAH e que existem em um espectro, podendo variar.

Esses traços precisam ser graves e persistentes o suficiente para impactar negativamente a capacidade da pessoa de viver uma vida saudável e funcional.

Uma pessoa comum pode apresentar alguns sintomas que lembram o TDAH, o que torna desafiador distinguir entre características semelhantes ao TDAH – como esquecer chaves, manter uma mesa desorganizada ou ter a mente vagando durante tarefas monótonas – e um transtorno médico que requer diagnóstico.

Uma vez que não existe um teste objetivo para diagnosticar o TDAH, os médicos frequentemente realizam entrevistas estruturadas com os pacientes, coletam informações de familiares por meio de escalas de avaliação e analisam registros médicos para chegar a um diagnóstico preciso.

Os desafios no diagnóstico também são notados por profissionais de saúde mental, incluindo psiquiatras, devido às semelhanças do TDAH com outras condições. Curiosamente, a dificuldade de concentração é o segundo sintoma mais comum em todos os distúrbios psiquiátricos.

A complexidade é ainda maior porque o TDAH é um fator de risco para várias condições com as quais compartilha características. Por exemplo, a constante exposição a feedbacks negativos pode levar adultos com TDAH a desenvolverem sintomas secundários de depressão e ansiedade.

O diagnóstico preciso exige um profissional de saúde habilidoso e bem treinado, disposto a investir o tempo necessário para coletar minuciosamente o histórico do paciente.

Considerando as circunstâncias da pandemia de covid-19, embora haja alguns fatores evidentes, ainda não está claro o quanto eles têm contribuído para o aumento nas prescrições de estimulantes.

No ano de 2021, os EUA ainda estavam no ápice da pandemia. As pessoas estavam enfrentando perdas de emprego, desafios financeiros e as complexidades do trabalho remoto, enquanto equilibravam responsabilidades como a educação online de seus filhos. Insegurança e incerteza eram sentimentos generalizados, com muitas famílias lamentando a perda de entes queridos.

A pandemia impactou a todos, mas as evidências sugerem que as mulheres foram afetadas de maneira mais intensa. Isso possivelmente levou a um aumento proporcional na busca por tratamentos estimulantes para auxiliar na adaptação às exigências do cotidiano.

Adicionalmente, com restrições em espaços recreativos presenciais, as pessoas passaram a investir mais tempo nas plataformas digitais.

Em 2021, o conceito de “neurodiversidade” ganhou força nas discussões online sobre justiça social. Esse termo, que não possui conotação médica, aborda a vasta gama de processos cerebrais que diferem do padrão convencional.

Na mesma época, a hashtag #ADHD se tornou uma tendência relevante no TikTok, com relatos divertidos sobre perdas de objetos, procrastinação e características do TDAH.

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