Um bebê nascer com um corte profundo na cabeça, precisando de mais de 15 pontos após uma cesárea de emergência, como ocorreu no Hospital Geral de Itapevi (HGI), no último dia 2 de maio, é um episódio que exige reflexão. Embora erros médicos possam acontecer em qualquer área da saúde, é fundamental reconhecer que, no contexto do parto, cada detalhe importa — e cada falha pode deixar marcas profundas, físicas e emocionais. A dor dessa família revela não apenas um possível descuido, mas também a fragilidade de um sistema que muitas vezes não oferece às gestantes o cuidado integral e humanizado que elas merecem.
De acordo com dados do levantamento Nascer no Brasil, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 30% das mulheres atendidas em hospitais privados em 2012 sofreram violência obstétrica. No Sistema Único de Saúde (SUS), a taxa foi de 45%.O que mais impressiona é que quase 13 anos depois, o problema ainda é recorrente nas maternidades e hospitais do Brasil.
O Congresso Nacional, neste ano, por meio da Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados, trouxe para o centro do debate a reforma do modelo obstétrico brasileiro. Apesar de tarde, é uma oportunidade valiosa para repensar práticas, fortalecer a atenção primária e valorizar profissionais como médicos e enfermeiras obstétricas, que podem contribuir para partos mais seguros e respeitosos. O erro em Itapevi não deve ser visto como rotina, mas como um alerta. Parto não pode ser tratado como procedimento mecânico. Ele exige técnica, sim, mas também sensibilidade, preparo e humanidade. É hora de transformar a exceção em aprendizado e garantir que situações como essa se tornem cada vez menos comum.