Portugal atravessa uma crise significativa no setor da saúde, marcada pela escassez de profissionais médicos e pela emigração de médicos em busca de melhores condições laborais no exterior. Paralelamente, muitos jovens portugueses encontram barreiras para ingressar nos cursos de medicina devido à elevada concorrência e às exigências acadêmicas rigorosas.
O neurocientista luso-brasileiro Dr. Fabiano de Abreu Agrela, pós-doutor em Neurociências e especialista em inteligência, destaca que o atual sistema de seleção para os cursos de medicina em Portugal pode estar excluindo indivíduos com perfis atípicos, como pessoas altamente criativas ou com condições como TDAH e superdotação. Segundo ele, essas pessoas frequentemente apresentam oscilações nas notas acadêmicas devido à sua intensidade emocional e falta de interesse por disciplinas que não despertam sua curiosidade. No entanto, a criatividade, atributo essencial para resolver problemas complexos na prática médica, está diretamente ligada a essas características, mas é subvalorizada no atual sistema meritocrático.
“Portugal, em tempos de inclusão, acaba ignorando potenciais mentes brilhantes que poderiam trazer inovações inimagináveis para a medicina”, afirma o Dr. Fabiano. Ele ressalta que o país favorece um padrão de médicos perfeccionistas e homogêneos, cujo foco é repetir o que aprenderam nos livros, sem abrir espaço para abordagens mais criativas ou empáticas no atendimento ao paciente.
Essa exclusividade no acesso ao curso de medicina não só limita a diversidade de perfis profissionais, mas também reforça práticas seletivas que, na prática, descartam indivíduos com habilidades únicas. O Dr. Fabiano enfatiza a necessidade urgente de Portugal repensar seu sistema de seleção e valorizar qualidades que vão além das notas, criando um ambiente inclusivo que aproveite ao máximo o talento disponível, especialmente em áreas tão vitais como a saúde.
Um estudo publicado no JAMA Network Open corrobora essa visão ao evidenciar que a diversidade cognitiva e de experiências entre os profissionais de saúde pode levar a melhores resultados no atendimento ao paciente. O estudo destaca que equipes médicas com diferentes formações e perspectivas são mais eficazes na resolução de problemas complexos e na inovação em práticas clínicas.
A posição do Dr. Fabiano de Abreu Agrela traz à tona a necessidade de uma reflexão profunda sobre os critérios de seleção para os cursos de medicina em Portugal, visando não apenas suprir a carência de profissionais, mas também enriquecer o sistema de saúde com profissionais diversificados e inovadores.
Texto e foto: MF Press Global