Neste domingo (19), o presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), José Hiran Gallo, manifestou concordância com os votos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) contrários à liminar de Luís Roberto Barroso, que autorizaria enfermeiros a realizarem procedimentos de aborto previstos em lei. Segundo o presidente do CFM, a medida seria desnecessária, já que o país dispõe de médicos suficientes para atender às demandas das políticas públicas.
Nada mais justo, afinal, há limites técnicos e éticos que devem ser respeitados dentro das atribuições de cada profissão. O problema, no entanto, não está apenas na quantidade de médicos disponíveis, mas na qualidade da formação e da prática profissional desses profissionais.
Nos últimos anos, o Brasil tem assistido a uma proliferação de faculdades de medicina, muitas sem estrutura adequada, professores qualificados ou hospitais de ensino que garantam a experiência prática necessária. O resultado é um contingente crescente de médicos, mas com preparo desigual, o que coloca em xeque a segurança do paciente e a eficiência do sistema de saúde.
A fala do presidente do CFM, portanto, traz uma verdade incômoda: médicos existem em número suficiente, mas bons médicos, comprometidos com a ética, a técnica e a humanização do cuidado, estão cada vez mais raros. Antes de se preocupar em defender fronteiras profissionais, o Conselho precisaria olhar com mais atenção para dentro da própria categoria, e garantir que o título de “médico” volte a ser sinônimo de excelência, e não apenas de quantidade.




