Entenda tudo sobre Alzheimer, doença que afeta mais de 1 milhão de brasileiros

Médica sorrindo

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Alzheimer é uma doença irreversível e neurodegenerativa que afeta a memória e as habilidades de pensamento. Também conhecida como mal de alzheimer, a demência compromete funções consideradas normais do ser humano, como a convivência, a fala e o comportamento. Segundo dados do Ministério da Saúde, estima-se que no Brasil cerca de 1,2 milhão pessoas vivem com alguma forma de demência e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano. Em todo o mundo, o número chega a 50 milhões de pessoas.

Ainda não se sabe exatamente como é ocasionada, mas acredita-se que seja geneticamente determinada: a doença instala-se quando o processamento de certas proteínas do sistema nervoso central começam a dar errado. Para entender melhor sobre o assunto e quando desconfiar que os sintomas estão de acordo, o portal Olho na Saúde conversa com a Dra. Roberta Kauark, médica neurologista. Acompanhe a entrevista completa a seguir.

Quais são as principais causas do Alzheimer?
A doença de Alzheimer pode ser uma doença de caráter esporádico, isso significa que não existe uma causa determinada para a doença. Vários fatores, juntos, contribuem para o aparecimento do Alzheimer, seja ele de causa genética (quando o fator genético é suficiente para causar a doença) ou não.

Há fatores de risco para o desenvolvimento da doença ?
O principal fator de risco para a doença de Alzheimer é a idade. É uma doença que habitualmente acomete indivíduos acima dos 65 anos de idade e dobra sua incidência a cada década de vida acima dos 65 anos. Pode acometer indivíduos abaixo dessa idade, mas é menos comum.
Outros fatores de risco também podem contribuir: fatores genéticos, ambientais, como poluição, doenças associadas como hipertensão, diabetes, hipercolesterolemia, tabagismo, etilismo.

Quais são os principais sintomas de Alzheimer?
Classicamente, as manifestações iniciais estão associadas a um déficit de memória, principalmente a memória recente. Esse indivíduo esquece fatos mais novos, ou seja, a memória tardia está preservada neste momento, e vai se alterar somente em fases mais avançadas da doença. A orientação temporal e espacial também é afetada, então o indivíduo pode se desorientar com caminhos. Geralmente, as queixas inicias estão associadas a isso: orientação e memória. Mas isso não impede de uma parcela menor de pacientes começarem com outras queixas inicias, como de linguagem, esquecendo palavras, por exemplo.

Quais pessoas estão mais propícias a terem a doença?
Quanto mais idoso maior é a chance de se ter a doença. A doença cardiovascular (infartos, doenças cardíacas de um modo geral), hipertensão, diabetes, dislipidemia, etilismo, tabagismo, sedentarismo são doenças que estão associadas ao aumento das chances do paciente desenvolver Alzheimer.

É possível que pessoas mais jovens também desenvolvam o Alzheimer?
É possível desenvolver a doença de Alzheimer mais jovem, abaixo dos 65 anos de idade. O médico deve investigar uma causa genética para aquela doença, pelo fato de ser mais incomum.

Por que é necessário detectar a doença, uma vez que ainda não existe cura? Existem estudos que visam sanar a demência?

Quanto mais cedo você detecta a doença, maiores são as chances do indivíduo começar a se cuidar, ou seja, cuidar dos fatores que podem piorar a progressão do Alzheimer. Por exemplo, cuidar dos fatores cardiovasculares, que podem piorar a progressão da doença, manter a glicemia, pressão arterial, colesterol compensados, praticar atividade física regular – tudo isso pode modificar a progressão da doença, pois são estímulos ao cérebro.

Apesar de não existir ainda um tratamento curativo para a doença, quanto antes você a descobre, maiores são as chances de se trabalhar com o intuito de alcançar uma evolução mais lenta da doença.

Quais são os tratamentos mais indicados?
Além das modificações dos fatores de risco, que devem estar bem controlados, modificações de hábitos de vida (como uma dieta saudável, prática de atividade física regular, estímulo cognitivo constante), existem drogas que podemos usar para melhorar sintomas, nas fases iniciais e moderadas da doença. Elas aumentam a oferta de acetilcolina, um neurotransmissor que ajuda nas sinapses cerebrais, na cognição. E existem drogas que são inibidoras do glutamato, que também ajudam em fases moderadas e avançadas da doença, atuando nos sintomas.

Existe algum medicamento mais revolucionário no combate à doença?
Recentemente, foram lançados os anticorpos monoclanais contra o amiloide, uma substância que se acumula no tecido cerebral e que, junto com a proteína Tau, são a assinatura da doença de Alzheimer: o Donanemab, Lecanemab e o Aducanumabe. Todos três são contra a substância amiloide e mostraram, tanto do ponto de vista radiológico, quanto do ponto de vista de testes, de avaliação neurológica, uma melhora do status desses pacientes.

Ainda não é uma terapia curativa, mas é um tratamento diferente do que tivemos ao longo de décadas. É bastante oneroso e trouxe um perfil de reações adversas associadas a sangramento em sistema nervoso cerebral, edema – inchaço cerebral, por isso a escolha da população que vai se beneficiar desse tratamento ainda carece de mais filtro, determinação.

Vale ressaltar que esses tratamentos foram realizados em fases precoces da doença, então na doença de Alzheimer pré-clínica, pré-sintomática, naqueles indivíduos que tinham alteração em exame de imagem, mas que nem tinham sintomas clínicos da doença, ou em fases iniciais da doença.

Como a família deve se comportar diante de uma pessoa com essa doença?
Não existe uma “receita de bolo”, até porque a sintomatologia de cada indivíduo é diferente, então não temos como orientar de modo geral todas as famílias, é algo individualizado. O importante é que exista a participação da família nas consultas, para que os familiares também compreendam a doença, os sintomas associados a ela e que apoiar o doente faz toda a diferença na evolução desse indivíduo.

Como a rede pública vem assistindo portadores da doença?
Na rede pública esses indivíduos são atendidos por alguns profissionais de saúde, tanto os médicos geriatras, neurologistas, clínicos gerais, como através da equipe multidisciplinar, com psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, mas o acesso ainda é muito disputado e difícil.

Além disso, existe a opção de acompanhamento desses indivíduos que já têm alguma dificuldade de locomoção, em casos específicos, de visita domiciliar; e os centros terciários de atuação, como o Creasi, em Salvador, dedicado aos idosos e que dispensa medicação de alto custo para tratamento de doença de Alzheimer. O Hospital das Clínicas também dispensa medicação e também tem ambulatórios especializados em demência.

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