A inseminação artificial é um tratamento de reprodução assistida que consiste na introdução de espermatozoides na cavidade uterina através de um cateter. Assim, a fertilização ocorre dentro do corpo da mulher, como ocorreria normalmente após uma relação sexual. O procedimento pode ser realizado com o sêmen do parceiro, mas em inúmeros casos existe a possibilidade da utilização do banco de sêmen de doador a nível ambulatorial. A prática considerada comum e segura com aparato médico, passa a ser vista enquanto perigosa quando realizada em casa: dados da Anvisa alertam sobre a quantidade de pessoas que realizam a intervenção em ambiente doméstico com uma seringa.
Para conhecer melhor sobre a temática, o Portal Olho na Saúde entrevista a médica Sofia Andrade, ela que é ginecologista e especialista em reprodução assistida. Leia a matéria completa a seguir.
O que é uma inseminação artificial e como é realizada?
É um tratamento de baixa complexidade da reprodução assistida indicado comumente para casais com infertilidade ou pacientes que necessitem de amostra seminal doada. Nesse procedimento, é feita uma estimulação ovariana leve para que no mês do tratamento a paciente libere de 1 a 3 óvulos durante a ovulação e, no momento em que a ovulação estiver ocorrendo, uma amostra de sêmen do parceiro é introduzida na cavidade uterina, após uma capacitação e seleção da melhor porção dessa amostra.
Para quem é indicado fazer a inseminação artificial?
Casais jovens com infertilidade sem causa aparente, mulheres que possuem infertilidade por síndrome de ovários policísticos, casais com infertilidade por alteração discreta na amostra seminal, casais lesboafetivos que utilizarão amostra seminal doada, mulheres que desejam gestação independente através do uso de amostra seminal doada ou até mesmo um casal de amigos que desejam a coparentalidade, mas não desejam realizar uma relação sexual para obtenção da gestação.
Existe alguma preparação para realizar o procedimento?
Sim. A paciente vai iniciar, a partir da chegada da menstruação, o uso de medicações hormonais para estimulação dos ovários e desenvolvimento dos folículos. A partir daí alguns ultrassons serão realizados para acompanhamento do desenvolvimento dos folículos ovarianos e quando os folículos já estão volumosos o suficiente para entendermos que dentro dele provavelmente já existe óvulo pronto para a fecundação, uma nova medicação para indução da ovulação é administrada e o dia da inseminação é programado. Nesse dia, o parceiro faz uma coleta seminal e essa amostra seminal é preparada e capacitada e uma melhor porção dela é selecionada. Após essa seleção essa amostra é delicadamente inserida na cavidade uterina através de uma cânula que passa pelo orifício natural do colo do útero.
Este procedimento só se faz em clínica ou hospital?
Esse procedimento pode ser realizado a nível ambulatorial, pois não requer sedação, mas precisa ser em ambiente médico.
Quais cuidados a pessoa deve ter antes de efetuar o procedimento?
Ao estimular os ovários, a paciente pode ter sintomas, efeitos da utilização dos hormônios, como um pouco de retenção de líquido ou cefaleia. Por isso, é importante uma alimentação equilibrada e hidratação adequada para diminuir a intensidade dos sintomas, quando eles estão presentes. Importante também realizar com serviço especializado em reprodução assistida para diminuir o risco de complicações após a realização da inseminação e para obter uma indicação médica adequada.
Quais são os tipos de inseminação artificial e qual é a mais adequada?
A inseminação pode ser realizada a partir de uma estimulação ovariana ou sem o uso das medicações hormonais, em um ciclo natural, em que a mulher terá apenas um folículo para ovular no mês do tratamento. Além disso, pode ser realizado com sêmen próprio do parceiro, assim como através da utilização de sêmen doado.
Tem sido comum a realização de inseminação caseira em mulheres, seja por crise econômica, ou por casais LGBTQIAP+ que solicitam a ajuda de uma terceira pessoa que cede o esperma. Esse ato é proibido? Qual é a orientação da medicina?
A medicina não aconselha esse tipo de procedimento e não é considerado seguro a sua realização. A amostra seminal, sem preparo, quando introduzida em cavidade uterina, pode trazer risco do ponto de vista infeccioso para a paciente além do risco de choque anafilático. Além disso, por não estar respaldado a nível médico ou judicial, problemas sérios podem ocorrer no futuro dessa criança com relação ao reconhecimento de paternidade.
Numa inseminação, quais os riscos para a mãe e bebê?
Se caseira, os riscos para a mãe seriam o infecioso, de choque anafilático, além do risco de hiperestímulo hormonal ovariano caso sejam utilizados hormônios sem um acompanhamento médico. Para o bebê, há o risco futuro do desejo de requerer a paternidade do doador e não receber o reconhecimento dessa paternidade.
O que diferencia uma inseminação no centro de medicina reprodutiva para o procedimento caseiro?
Além de todo o conhecimento médico para indicar de forma adequada a realização desse tratamento, haverá um acompanhamento ultrassonográfico da evolução do estímulo ovariano, as medicações prescritas terão seu efeito bem acompanhado e analisado e o dia da realização da inseminação será melhor escolhido, aumentando assim a taxa de sucesso do tratamento. Além disso, a amostra seminal passará por uma otimização, melhorando a qualidade do sêmen antes do procedimento e amostra também passará por um preparo para que haja diminuição de risco da transmissão de doenças infeciosas ou reação anafilática na mulher que recebe a amostra seminal.