Explosão de Divórcios: um reflexo da saúde emocional

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Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), divulgada em março, trouxe à tona uma realidade cada vez mais presente na sociedade brasileira: o aumento significativo do número de divórcios. Em 2022, os divórcios cresceram 8,6% em comparação com o ano anterior, passando de 386.813 para 420.039. Os dados apontam não só para uma mudança nas estruturas familiares, mas também para uma reflexão sobre os comportamentos ligados à saúde mental e emocional dos casais modernos. Nesse contexto, a psicoterapeuta de casais, doutora em Família e pesquisadora da conjugalidade, Sinara Dantas, explica que o casamento deixou de ser uma aliança meramente sócio-cultural para se tornar uma busca pela realização emocional individual.

Por que as pessoas estão cada vez mais se separando?

Vivemos, ao longo dos séculos, algumas transformações que levaram o casamento, do âmbito sócio-cultural, para o âmbito afetivo, em que a felicidade individual de cada membro é o mantenedor dos casais. Deixou de ser uma aliança entre família, passando a ser uma questão de auto-realização emocional. Ao contrário do que o senso comum sustenta, as separações não são uma questão de “intolerância com a conjugalidade porque a sociedade está muito imediatista”: isso é uma visão rasa. Estamos mais exigentes com a qualidade dos nossos vínculos de amor, e não é mais a longevidade do vínculo conjugal que transparece o sucesso dele, mas sim a qualidade interacional entre o par.

Na sua opinião, o casamento está fadado ao fracasso?

De forma alguma. O número de divórcios aumentou, mas, somados a eles estão também as novas possibilidades de refazer a vida amorosa. Assim como ocorrem os divórcios, a família continua no centro da construção individualizada dos sujeitos, e o casamento ainda tem um lugar privilegiado dentre as relações mais significativas validadas pelos adultos na sociedade. Isso tem levado aos recasamentos, que ocorrem tanto por conta de divórcios, como por conta de viuvez.

Há pessoas que não aceitam ser monogâmicas eternamente e preferem relacionamentos mais liberais?

A diversidade e a flexibilidade tornam-se características inseparáveis na formação de novos casais. Percebe-se o aumento da mobilidade espacial, o desejo de preservar a independência e algumas novas formas alternativas de convivência e parceria, como moradia em domicílios diferentes. Mas, cada casal cria seu modelo único de ser casal. Nesses contratos metafóricos particulares estão algumas cláusulas sobre a orientação de relacionamento afetivo e sexual na qual se acredita ser possível ao casal conviver.

O que você acha das festas cada vez mais comuns, na atualidade, para celebrar o divórcio?

Em todas as cerimônias é preciso compreender que existem, por trás, muitos processos familiares invisíveis. O casamento é considerado o evento mais sintomático da vida familiar, mas, assim como os funerais, são ritos de passagem naturais e previsíveis. Num momento sócio-cultural caracterizado pela autonomia sobre as escolhas conjugais, a forma como as pessoas têm escolhido ritualizar seus divórcios simboliza o peso da responsabilidade que carregaram sobre essa liberdade, com demonstrações catárticas, de festejos, como se tivessem sido forçadas a permanecer casadas e vivido uma saga relacional.

 

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