O anúncio do Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (Enamed) pelo Ministério da Educação nesta quarta-feira (23) soa como uma medida urgente para um problema crônico: a má qualidade de parte dos cursos de Medicina no Brasil. Mas será que uma prova no fim da graduação é suficiente para enfrentar um sistema que, em muitos casos, já está doente desde o processo seletivo?
A inciativa é boa, porém muitos aspectos devem ser analisados. Avaliar a formação médica só no último ano é como tentar medir a febre de um paciente no fim da internação, quando o diagnóstico já deveria ter sido feito lá atrás.
Há muito se fala na proliferação desenfreadas de escolas médicas, muitas sem estrutura adequada, sem um hospital-escola referência, alunos altamente despreparados abaixo da média que só ingressaram na faculdade de medicina por que pagaram. Estes sem dúvida são os principais fatores por trás da formação deficiente — e isso exige regulação constante ao longo do curso, não só ao final.
Ainda existe o risco de que o Enamed sirva mais para culpar o aluno do que para cobrar qualidade institucional das faculdades.
Outra questão importante, a formação deveria estar mais conectada com a realidade do Sistema Único de Saúde (SUS), onde a maioria dos médicos vai atuar.
O Enamed pode até funcionar como um indicador, mas por si só não resolve o problema. Sem uma política nacional que enfrente a proliferação de cursos de baixa qualidade, que fortaleça a formação prática e promova a integração do ensino médico com o SUS, estaremos apenas registrando os sintomas de um sistema que segue adoecendo silenciosamente.
