Foto: IStock
Estudos recentes alertam para uma preocupante tendência: a queda na concentração de sêmen nos homens nas últimas quatro décadas. Segundo pesquisas da Human Reproduction Update (2017) e da National Library of Medicine (2013), essa diminuição anual de espermas está contribuindo para o aumento dos casos de infertilidade conjugal.
Uma das linhas de estudo deste fenômeno relaciona o impacto de substâncias derivadas de PFAS (substâncias per e polifluoroalquil), amplamente utilizadas pela indústria, na produção hormonal.
Trata-se da substância sintética mais fácil de ser encontrada no mundo. Atualmente são mais de nove mil diferentes produtos químicos PFAS, utilizado em itens de consumo do cotidiano, como alimentos, roupas e acessórios.
De acordo com especialistas, elas geram uma resposta negativa no organismo, levando a um desligamento progressivo das funções hormonais e reprodutivas. “A produção de espermatozoides depende, em partes, desse balanço adequado de hormônios, e isso pode diminuir as potências do órgão produtor, gerando o que chamamos de feedback negativo”, explica Dr. Mauro Bibancos, urologista-chefe do São Luiz Campinas.
Quando as grávidas entram em contato com essas substâncias, sua presença é verificada nos bebês, conforme estudos feitos na Dinamarca. Já em Padova, na Itália, percebeu-se que crianças que apresentaram essas substâncias no sangue têm menor potencial hormonal, tendo sinais de perda de caracteres androgênicos (virilidade masculina) mesmo em idades precoces, antes da puberdade. “Isso é o que chamamos de efeito transgeracional, ou seja, que passa de geração em geração”, complementa o médico.
Dr. Mauro destaca que a principal forma de prevenção é a realização precoce do exame de espermograma, já em adultos jovens, por volta de 20 anos, quando os hormônios se estabilizam.
“Trata-se de um exame de saúde geral e importante para diagnóstico precoce, em fases em que é possível agir para reverter o problema. No entanto, muitos homens só buscam fazem o espermograma quando a infertilidade já está instalada”, alerta.
No Brasil, a infertilidade afeta cerca de 10 a 15% dos casais, podendo estar ligada a uma série de fatores, tanto físicos quanto genéticos, incluindo a escassez de espermas, obstruções nas trompas e problemas nos ovários.
“A incapacidade de duas pessoas, em tese, aptas e saudáveis, conceberem é chamada de infertilidade. Em média 50% dessas ocorrências estão ligadas às mulheres, com os homens ficando com 40%. Há ainda 10% de registros em que os dois possuem impeditivos”, esclarece Dr. Mauro.
De forma geral, casais que não conseguem conceber após um ano de tentativas, ou seis meses, se a mulher tiver mais de 37 anos, devem procurar ajuda profissional.
Segundo o médico, as mulheres apresentam vantagem no processo, pois realizam checkups ginecológicos mais assiduamente, começando já após a primeira menstruação, na adolescência.
“Por questões muitas vezes supérfluas, os homens relutam em realizar exames como o espermograma, que é essencial para diagnosticar possíveis problemas de fertilidade. É apenas através da investigação que o médico poderá indicar as condutas mais adequadas para cada caso”, reforça o especialista.
Felizmente, a maioria dos casos de infertilidade é tratável. Consultas médicas especializadas, exames urológicos e ginecológicos, juntamente com terapias como coito programado, inseminação intrauterina e fertilização in vitro, são algumas das opções disponíveis.
“Além disso, o apoio psicológico é importante para auxiliar os casais durante esse processo, que pode ser cercado por ansiedade, expectativas e frustrações”, orienta o urologista do São Luiz Campinas.