A genética não é o único fator associado à demência. Há muitos outros, conhecidos e ainda não compreendidos, que podem aumentar a chance de desenvolver a doença neurodegenerativa.
O número é a conclusão de estudo inédito liderado pela Universidade de São Paulo (USP), que mapeou o impacto do modo de vida no declínio cognitivo dos brasileiros.
Por serem “modificáveis”, o trabalho também revela que quase metade dos casos de demência no Brasil (48,2%) poderiam ser prevenidos ou, pelo menos, ter seu início retardado com o controle de 12 condições reconhecidamente associadas tanto ao Alzheimer quanto ao declínio cognitivo em geral: os três principais já citados, além de obesidade, diabetes, consumo excessivo de álcool, lesões traumáticas no cérebro, sedentarismo, depressão, tabagismo, isolamento social e exposição ao ar poluído.
O baixo nível educacional (considerando 8 anos de estudo ou menos) é o principal fator modificável de declínio cognitivo no país, estando associado a 7,7% dos casos, seguido da hipertensão (7,6%) e da perda auditiva (6,8%).
No entanto, nas regiões mais ricas do Brasil e entre os brancos, há uma inversão: a hipertensão é o principal fator, vestígio da desigualdade social assombrosa. Nos países desenvolvidos, os fatores de maior peso são perda auditiva, baixa educação e tabagismo.
“Sabemos que é impossível abolir todos esses fatores de risco do ponto de vista de saúde pública, mas, quanto mais reduzirmos esses aspectos, mais casos de demência conseguiremos prevenir”, disse a geriatra da USP Claudia Suemoto, uma das líderes do trabalho. “O estudo mostra que há um grande potencial para prevenção da demência no Brasil”, complementa.
Sua equipe usou os dados do Estudo Longitudinal de Envelhecimento no Brasil (ELSI-Brasil), que reuniu 9.412 participantes com idade média de 63,6 anos, estratificados por região onde vivem, nível socioeconômico e raça.
Reserva cognitiva
As condições que elevam o risco cardiovascular, como hipertensão, obesidade, diabetes ou tabagismo, estão associadas à demência porque aumentam o risco de cortes à circulação cerebral e parecem promover a deposição de proteínas anômalas associadas à doença de Alzheimer.
Por outro lado, estímulos cognitivos, como a educação, principalmente na primeira infância, promovem a chamada neuroplasticidade, resultando na formação de novos neurônios e numa maior conexão entre eles. “Isso leva a uma maior reserva cognitiva”, explica Suemoto.
A capacidade auditiva, por sua vez, desempenha um papel importantíssimo na recepção de estímulos pelo cérebro.
Calcula-se que haja 57 milhões de pessoas com demência no mundo. E esse número deve crescer mais de 200% até 2050. No Brasil, estima-se que existam 1,2 milhão casos, a maior parte deles ainda sem diagnóstico.
Fonte: VEJA