A alta rotatividade de médicos na atenção primária à saúde (APS) expõe uma fragilidade crônica no sistema público de saúde brasileiro.
Dados da Umane, uma associação civil, independente, isenta e sem fins lucrativos que apoia iniciativas no âmbito da saúde pública, mostra que 33,9% dos profissionais estão deixando seus postos, entre 2022 e 2024, o que aponta que a descontinuidade no atendimento vira regra, não exceção. Em regiões economicamente mais frágeis, como Maranhão e Paraíba, o cenário é ainda mais alarmante, revelando que o problema não é apenas de gestão, mas de abandono estrutural de áreas onde o SUS deveria ser mais forte e presente.
O impacto desse vai e vem de médicos é devastador para a população. Sem tempo suficiente para criar vínculo com os pacientes, os profissionais não conseguem acompanhar o histórico de saúde, dificultando diagnósticos precisos e prejudicando o controle de doenças crônicas. Conforme aponta especialistas, leva-se, pelo menos, um ano para estabelecer uma relação de confiança e conhecimento entre médico e paciente. Com a constante troca de profissionais, o cuidado vira algo superficial e fragmentado, enfraquecendo a principal função da atenção básica: o acompanhamento contínuo.
Falta ao poder público uma política eficaz de retenção de profissionais nas regiões mais carentes. Não se trata apenas de enviar médicos para áreas distantes, mas de criar condições dignas de trabalho, com infraestrutura, segurança e remuneração compatível com a responsabilidade exercida. Sem essa mudança estrutural, a atenção primária seguirá refém de um ciclo vicioso: onde mais se precisa de médicos, menos eles permanecem.




