A insuficiência cardíaca é uma síndrome clínica que se caracteriza pela incapacidade do coração em atuar adequadamente como bomba, seja por déficit de contração ou de relaxamento, comprometendo o funcionamento do organismo. Famosos como o apresentador Faustão, que necessita de um transplante de coração, evidenciam que o problema requer bastante atenção e pode progredir negativamente a depender de alguns fatores específicos.
Segundo dados do DATASUS, estima-se que, no Brasil, há cerca de dois milhões de pacientes com a doença, sendo diagnosticados 240 mil casos por ano – ocasionando uma das principais causas de mortalidade e morbidade no mundo. Para compreender melhor o problema e de que forma ele age, o portal Olho na Saúde conversou com o médico cardiologista e Coordenador do Programa de Insuficiência Cardíaca Avançada do Hospital Ana Nery, Dr. Luiz Carlos Passos, e a Dra. Daniela Velame, especialista em Insuficiência Cardíaca, evidenciando os sintomas mais comuns e quando o transplante de coração é indicado. Acompanhe a entrevista completa a seguir.
O que é insuficiência cardíaca e quando a pessoa deve suspeitar que tem o problema?
É uma condição clínica em que o coração não consegue bombear quantidade suficiente de sangue, capaz de atender às demandas do corpo. O paciente deve suspeitar que tem o problema quando apresentar cansaço durante as atividades físicas, falta de ar e/ou edema nos membros inferiores.
A insuficiência cardíaca é uma doença hereditária? Quem tem maior probabilidade de desenvolver o quadro?
Em geral, não é uma doença hereditária; a maioria dos pacientes desenvolve a insuficiência cardíaca por conta de fatores como infarto, Hipertensão não tratada,
Doença de Chagas, entre outros. Algumas doenças mais raras são de etiologia genética, podendo acontecer em pessoas de uma mesma família.
Doenças como ansiedade/depressão/estresse agravam o quadro de insuficiência cardíaca?
Ansiedade/depressão/estresse não impactam diretamente na insuficiência cardíaca; mas pessoas com essas alterações psiquiátricas têm maior risco de parar de seguir o tratamento da insuficiência cardíaca, o que pode resultar na piora do quadro.
Quais são os fatores que levam à insuficiência cardíaca?
Hoje em dia, a doença com maior prevalência que pode levar à insuficiência cardíaca é o infarto. Mas Hipertensão, Doença de Chagas e Doença Reumática com comprometimento das válvulas cardíacas, quando não tratadas de forma correta, podem levar ao desenvolvimento da insuficiência cardíaca.
Quais são os tratamentos indicados? Existe uma média de tempo para que a pessoa se recupere?
O paciente com insuficiência cardíaca deve ser orientado a realizar mudanças no estilo de vida e dietas pobres em sal; além disso, são indicadas medicações de uso contínuo que variam de acordo com o quadro clínico do paciente. Algumas dessas medicações têm comprovação científica em reduzir mortalidade e hospitalizações dos pacientes. A grande maioria também deve ser orientada a praticar regularmente exercícios físicos de leve intensidade, que também melhoram os sintomas dos pacientes. Em geral, após 3 a 6 meses do início do tratamento, os pacientes tendem a apresentar melhora do quadro clínico e da função cardíaca; entretanto, as medicações não devem ser descontinuadas. Uma pequena parcela dos pacientes, infelizmente, não apresentam melhora com as medicações; nesse caso, devem ser avaliados por especialista em insuficiência cardíaca para definição de melhor tratamento.
Se a insuficiência for diagnosticada precocemente tem possibilidade de cura ou somente o transplante do coração é a solução?
A insuficiência cardíaca não tem cura; mesmo quando os pacientes melhoram a função cardíaca, o uso das medicações permanece indicado. Aqueles pacientes com quadros mais graves, após avaliação com especialista, podem ter indicação de transplante cardíaco.
Como funciona o transplante de coração? Ele é unicamente possibilitado pelo SUS?
O transplante de coração é um tratamento indicado quando, à despeito das medicações otimizadas, o paciente permanece com muitos sintomas e com hospitalizações frequentes. Quando o paciente tem indicação de transplante, sempre é feita uma avaliação minuciosa de outras doenças associadas e, se não houver nenhuma contraindicação, o paciente é listado em uma fila única estadual. A posição em fila depende dos critérios de prioridade, como gravidade do paciente, necessidade de uso de medicamentos venosos ou uso de dispositivos para ajudar no bombeamento sanguíneo, além do tipo sanguíneo do paciente. O maior transplantador do País é o SUS, mas as cirurgias também podem acontecer em hospitais particulares vinculados a planos de saúde. Entretanto, a fila é única para pacientes SUS e particulares.
Um paciente que necessita do transplante consegue esperar, em média, quanto tempo? E como funciona a fila de prioridade?
O tempo de espera em fila é variável; depende da quantidade de paciente em fila aguardando o órgão, do tipo sanguíneo e da gravidade do paciente. A espera pode ser de dias até 6 a 8 meses em alguns casos. A fila de prioridade leva em conta, principalmente, a gravidade do paciente. Pacientes mais graves, que estão necessitando de uso de dispositivos (aparelhos) que ajudam a bombear o sangue têm prioridade máxima, seguidos daqueles que estão em uso de medicações venosas que auxiliam no bombeamento, depois entram os pacientes que não estão internados.
É importante ressaltar que, hoje, o programa de transplante cardíaco é complementar a uma série de tratamentos que podem melhorar bastante a qualidade de vida e a longevidade dos pacientes, a exemplo da terapia de ressincronização cardíaca, dos desfibriladores implantáveis e das intervenções percutâneas nas válvulas mitral e aórtica, em casos muito sintomáticos de insuficiência cardíaca.
Ademais, o transplante por si exige, além de equipes treinadas, doações de órgãos regulares, suporte social das famílias para tratamento de longo prazo regular, medicamentos específicos para evitar a rejeição de órgãos, dentre outros fatores. A insuficiência cardíaca aumenta com a idade, entretanto pode ser evitada na maioria dos casos e controlada com os tratamentos modernos, de forma mais barata e acessível. Nesse sentido, destacamos que o transplante de coração não é uma alternativa de cura, mas uma estratégia para minorar a falta de tratamento apropriado na maioria dos casos ou em casos específicos, como no curso muito singular de pacientes que apresentam uma forma bastante agressiva da doença que, felizmente, não é comum.
Fotos: Reprodução/Ascom