Os dados divulgados pelo Unicef escancaram um problema que deixou de ser apenas alimentar e passou a ser estrutural. O aumento no consumo de alimentos ultraprocessados entre crianças e adolescentes ocorre em escala global. Nos países de média-alta renda, o crescimento foi de cerca de 20%, enquanto nas nações de média e baixa renda as vendas médias anuais per capita subiram 15% entre 2007 e 2022. Esse avanço acompanha, de forma direta, a elevação dos índices de sobrepeso e obesidade.
No Brasil, a situação preocupa pela velocidade da mudança no padrão alimentar. Entre 1987 e 2015, a presença de ultraprocessados nas compras domiciliares mais que dobrou, passando de 10% para 23%. A maior parte desse consumo é feita por adolescentes, grupo mais exposto à publicidade e à praticidade desses produtos. O dado revela uma substituição gradual de alimentos in natura por itens industrializados no cotidiano das famílias.
O alerta se agrava ao observar que, em países como Argentina, Indonésia, Canadá, Chile e Brasil, crianças mais novas já estão entre os principais consumidores. Isso evidencia fragilidades na regulação da publicidade infantil e na educação alimentar. Diante desse cenário, tratar o avanço da obesidade infantil como algo inevitável é negligenciar um problema de saúde pública que cresce a cada ano.



