A decisão da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) de barrar a incorporação dos medicamentos Wegovy e Saxenda ao SUS escancara uma situação delicada: de um lado, o desafio orçamentário de um sistema público de saúde que precisa equilibrar contas já pressionadas; de outro, a urgência de ampliar o acesso a terapias que podem transformar a vida de milhões de brasileiros com obesidade e diabetes. A justificativa financeira, embora compreensível, soa insuficiente diante do impacto social da obesidade, que é fator de risco para diversas doenças crônicas e sobrecarrega ainda mais o próprio SUS. Ignorar essa dimensão preventiva pode significar uma economia imediata que custará muito mais caro no futuro.
Ao reagirem de forma contundente, sociedades médicas e entidades especializadas evidenciam a distância entre a inovação científica e sua aplicação prática na saúde pública. A negativa reforça um abismo social: enquanto quem pode pagar recorre ao setor privado, a maioria dos pacientes permanece limitada a alternativas menos eficazes. A discussão vai além de números frios; trata-se de reconhecer a obesidade como doença crônica e garantir tratamento digno a quem depende exclusivamente do SUS. Nesse embate entre contas e vidas, é preciso que o Estado assuma a responsabilidade de buscar soluções intermediárias — como restrições populacionais ou modelos de coparticipação — para que a equação não continue penalizando justamente os mais vulneráveis.




